quarta-feira, 20 de junho de 2012

Li no jornal hoje cedo;
Potências falidas;
Pessoas falecidas;
Locais devastados;
Olhei para o lado;
E vi através da janela do meu quarto;
Crianças brincando de roda;
Uma árvore torta;
Pássaros cantando;
Velhinhas conversando;
Quando eu for jornalista;
Vou tentar provar;
Que ainda há poesia;
Até mesmo no caos;
Que hoje o mundo domina.
Tua carne te torna tão mortal;
Mas ainda assim;
Você faz uso daquilo que te faz mal.
Se faz essencial;
A essência do insano.

Se lembre de mim.

Avistei uma garota na ferroviária, o que era incomum, já que sempre estava vazia. Abandonada e esquecida, para dar espaço as novas tecnologias. Mas aquela garota parecia bem confortável, certamente estivera ali antes, e parecia que também havia sido esquecida.
Sua imagem sentada naquele banco, olhando atentamente para a ferrovia enquanto tragava e exalava teu Camel - há quanto tempo não via um Camel? Pensei em lhe pedir um, mas rapidamente apaguei essa ideia-. Aquela garota era um poema e quis fotografar aquele momento. Congela-lo. Mas não possuía uma câmera, nem mesmo um celular.
Olhei para a ferrovia e tentei entender o que ela tanto procurava, e logo avistei um rapaz se aproximando e compreendi: era um reencontro. Me aproximei e fiquei quieto, para ouvir o que se passaria.
A garota levantou num salto e o aguardava. Acendeu mais um Camel. "Gabrielle!", exclamou o rapaz, que finalmente tirara o cigarro da boca. A garota sorriu. "Pablo!", e o abraçou.
Sentaram no banco e mantiveram o olhar preso na estrada de ferro, e se fez silêncio. Mas então o rapaz se manifesta:
-Faz muito tempo.
-Sim.
-Você não mudou muito. Isso é bom.
-Apenas o externo, meu caro.
-Mas sua essência é a mesma. Nota-se.
Gabrielle sorriu e deitou a cabeça no ombro de Pablo. Fez-se silêncio novamente. Mas por pouco tempo. Pablo parece inquieto e pergunta:
-Quando você volta?
-Daqui dois dias.
-Hm entendo. -Suspira e não diz nada por cerca de 3 minutos.- Não pode ficar mais?
-Posso. Mas acho melhor não. Você deveria compreender.
-Deveria -Respira fundo.- Mas você se lembrou de mim? Em algum momento...
-Ainda insiste nisso?- Ri para si mesma- Mas me desculpe, não me lembrei de ti.
-Nenhuma vez?
-Não.
O rapaz se levantou e fitou o nada, intercalando entre olhar para chão e fechar os olhos. Virou teu olhar para ela, e dessa vez foi Gabrielle quem falou:
-Acho que você deve ir embora agora.
-Até logo Gabrielle.
-Até.
Ele estava saindo, até que se virou e -parecia indignado- questionou:
-Nenhuma vez?
-Como poderia me lembrar?
Gabrielle deu um longo suspiro, e terminou:
-Se nunca parei de pensar em você.
Pablo sorriu e era Gabrielle quem agora observava o piso sujo. Ele se aproximou, e cuidadosamente segurou rosto da garota envergonhada com as duas mãos e a beijou. Depois foi embora com pensamento preso naqueles olhos que um dia voltariam. E que quando voltasse estariam prontos para assumir o que sentia.
Gabrielle continuou sentada no banco por algum tempo a mais. Parecia fazer força para não chorar, e por fim se levantou e seguiu na direção contrária da de Pablo. Repetindo para si: "Não vire, continue andando. Você já fez isso antes." Ela era a mais destemida e ousada de todas. Dizer não para o amor, é prova de coragem. Ou loucura.