sexta-feira, 25 de março de 2011

Primeira pessoa, assumindo a terceira.

Ela estava desistindo. Desistindo dele, desistindo de ser algo ou alguém, desistindo de agradar, tentar, comer, respirar, amar e ser amada. Ela já havia desistido de rezar há muito tempo,desde que havia notado que a figura divina não passava de uma ilusão, uma invenção feita para consolar, mais uma superstição.
A vida havia sido cruel com ela, as pessoas eram frias e não conheciam a palavra "compreensão".
Era muita expectativa sob seus ombros, muitos esperavam mais do que do que era capaz de oferecer, e por muitos anos ela tentou agradar, mas agora ela era outra. Sua metamorfose havia sido violenta e contrastante, neste. momento ela vivia apenas para ela mesma e havia imposto diversos limites para se proteger, para chorar menos.
Seu lado barroco estava muito acentuado e isso de certa forma a agradava, esse seu lado obscuro, agonizante e dominado pela angústia da incerteza de saber quem era. As lágrimas fugitivas a faziam bem, porque afinal de contas, nunca havia vivido de outra forma.
Ela já sabia o que queria, apenas não tinha coragem para admitir para si mesma. Faltava-lhe coragem para aceitar. Ela já havia decidido que ficaria sozinha, pois gostava do silêncio, ou ao menos tentava se convencer de que era melhor assim